O cadastro de inadimplentes em Belo Horizonte registrou, em agosto, uma queda de 1,81% em comparação com o mesmo mês de 2023.
Esse foi o terceiro mês consecutivo de redução no índice, com recuos de 0,85% em junho e 2,48% em julho, conforme dados da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH). O crescimento econômico do país, a estabilidade no mercado de trabalho, políticas de renegociação de dívidas e o controle da inflação foram fatores que influenciaram essa tendência de queda.
“Esses fatores aumentaram a renda disponível para os trabalhadores, permitindo que quitassem suas dívidas e saíssem do cadastro de inadimplentes. Isso é um sinal positivo, pois reflete a recuperação de crédito das famílias e mostra que Belo Horizonte tem acompanhado bem os acontecimentos econômicos do país”, afirma Marcelo de Souza e Silva, presidente da CDL/BH.
Valor das dívidas e reincidência
Apesar da queda na inadimplência, o valor médio das dívidas dos moradores de Belo Horizonte continua sendo uma preocupação. Em agosto de 2024, a média das contas em atraso era de R$ 5.008,44. Como a maioria dos inadimplentes tem, em média, duas contas pendentes por CPF, o valor total devido por pessoa chega a R$ 10.016,88.
“Esse valor é significativo e demonstra que muitos inadimplentes, por falta de planejamento financeiro, acabam reincidindo no cadastro de negativados, mesmo após recuperarem crédito”, explica Souza e Silva.
Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) indicam que, em julho de 2024, 85,22% dos inadimplentes eram reincidentes, ou seja, já haviam aparecido no cadastro nos últimos 12 meses. Além disso, 23,48% dos devedores reincidentes retornaram ao cadastro de negativados após quitarem dívidas no último ano. O tempo médio entre o vencimento de uma dívida e a ocorrência de outra é de apenas 72,6 dias.
Mulheres e idosos
Mulheres e idosos são grupos recorrentes no cadastro de inadimplentes. A desigualdade salarial, que resulta em ganhos 33% menores para as mulheres em comparação aos homens, mesmo em funções semelhantes, explica parte desse fenômeno. Já os idosos, muitas vezes, enfrentam altos custos com saúde, dificuldade de acesso ao crédito e renda reduzida devido à aposentadoria, além de, em muitos casos, serem o principal apoio financeiro da família.
“Esses dois grupos acumulam responsabilidades financeiras significativas e, ao mesmo tempo, enfrentam fragilidades econômicas. Isso os torna mais vulneráveis à inadimplência e com dificuldade de reverter essa situação”, explica Ana Paula Bastos, economista da CDL/BH.
Em agosto, as mulheres representavam 47,28% dos inadimplentes de Belo Horizonte, com uma dívida média de R$ 4.914,10, enquanto os homens, que compunham 43,76% do cadastro, deviam, em média, R$ 5.313,46. Embora os homens apresentem uma dívida média maior, as mulheres acumulam mais contratos inadimplentes por CPF.
Faixa etária e valor das dívidas
Os grupos etários também se destacam no levantamento da CDL/BH. A faixa de 50 a 64 anos lidera o cadastro de inadimplentes, com 23,11%, seguida pelos grupos de 30 a 39 anos (22,76%) e 40 a 49 anos (22,4%). Veja a média de dívida por faixa etária:
- 18 a 24 anos: R$ 3.794,98
- 25 a 39 anos: R$ 5.540,11
- 40 a 64 anos: R$ 5.202,04
- Acima de 65 anos: R$ 2.579,96
Planejamento financeiro
Para evitar inadimplência e lidar com os juros altos, o planejamento financeiro é essencial. Marcelo de Souza e Silva alerta para a importância de uma mudança na relação com o dinheiro: “Os consumidores precisam adotar uma abordagem mais consciente e crítica de seus gastos. O velho hábito de gastar tudo o que se ganha é o caminho mais curto para acumular dívidas”.
A economista Ana Paula Bastos oferece algumas dicas para uma gestão financeira saudável e evitar o acúmulo de dívidas:
- Visualize seus gastos e ganhos
“Mantenha o hábito de anotar suas movimentações financeiras. Isso ajudará a identificar seus custos fixos, variáveis, despesas com cartões de crédito e parcelas. Com isso, será mais fácil criar estratégias e metas.” - Crie um orçamento financeiro
“Após entender melhor seus gastos e ganhos, estabeleça um orçamento financeiro, com limites para cada categoria de despesa. Mantenha-se fiel às metas, evitando compras por impulso.” - Renegocie suas dívidas
“A renegociação é uma ótima maneira de limpar o nome. Muitas vezes, são oferecidos descontos que facilitam o pagamento das dívidas.” - Atenção aos juros
“Fique atento aos juros ao parcelar compras, especialmente no cartão de crédito e cheque especial. Em empréstimos, verifique o Custo Efetivo Total.” - Estabeleça objetivos financeiros
“Defina metas realistas para suas finanças e faça isso de forma que se encaixe no seu orçamento.” - Crie uma reserva de emergência
“Dedique ao menos 10% da sua renda para uma reserva de emergência, essencial para lidar com imprevistos.” - Invista renda extra
“Se receber uma renda extra, considere investi-la. Existem diversas opções seguras, e mesmo a poupança, embora de baixo rendimento, é melhor do que não poupar.