Parlamentares, especialistas, cicloativistas e representantes da Prefeitura de Belo Horizonte participaram, ontem, quinta-feira de audiência pública na Câmara Municipal para discutir a paralisação das obras da ciclovia da Avenida Afonso Pena, interrompidas desde abril de 2024.
O debate foi promovido pela Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços, por iniciativa dos vereadores Wagner Ferreira (PV), Helton Junior (PSD) e Luiza Dulci (PT).
A obra, que integra o Plano Diretor da cidade e prevê 400 km de ciclovias, foi suspensa após questionamentos do Ministério Público e manifestações contrárias de motoristas, comerciantes e moradores da região.
Durante o encontro, os participantes destacaram a importância da infraestrutura cicloviária para a segurança viária, a mobilidade urbana sustentável e a democratização do espaço público.
A audiência teve início com uma homenagem ao ciclista Fabrício Almeida, vítima fatal de atropelamento em 2023 enquanto pedalava. Sua irmã, Fabíola Almeida, emocionou o plenário ao lembrar que “muitas pessoas usam a bicicleta como meio de transporte, e não apenas para lazer”, destacando a urgência de garantir segurança aos ciclistas.
Vanessa Macedo, do grupo Giro Rua, reforçou que pedalar em Belo Horizonte é um desafio diário e que a ciclovia representa o direito de ir e vir. Juliane Rocha, do Bike de Elite, defendeu a continuidade da obra e afirmou que o projeto está em conformidade com a legislação urbanística vigente.
Cristiano Scarpelli, do Ciclo Rota BH, rebateu os principais argumentos contrários à ciclovia, como a alegada falta de estudos de impacto e o prejuízo ao trânsito. Ele destacou que o trecho da Afonso Pena afetado representa apenas 1,6% do espaço viário local e que o fluxo de ciclistas já ultrapassa mil por dia, mesmo sem estrutura adequada.
Cida Falabella (PSOL) lembrou que outras intervenções urbanas, como a Stock Car, causam impactos ambientais e viários muito superiores sem sofrerem interrupções. “Trata-se de uma conquista simbólica e concreta para a cidade”, afirmou.
Rede cicloviária e desafios
A falta de conexão entre as ciclovias de Belo Horizonte foi apontada por vários participantes. O vereador Braulio Lara (Novo) e o ciclista Vinicius Mundim, do Inconfidentes Pedalantes, concordaram sobre a importância de um plano mais integrado e abrangente. Mundim argumentou que a implantação da ciclovia na principal avenida da capital pode impulsionar avanços em outras regiões com maior carência de infraestrutura.
Representando a Prefeitura, Liliana Hermont, diretora da Sumob, informou que a nova versão do projeto prevê apenas o transplantio de árvores, e não mais a supressão. Ela destacou que a obra é fundamental para garantir segurança aos ciclistas e que a gestão municipal está comprometida com sua continuidade.
A assessora Eveline Prado Trevisan revelou que a Prefeitura está em fase final de negociação para financiamento federal destinado à implantação de mais 70 km de ciclovias, e que a estrutura na Afonso Pena poderá funcionar como “espinha dorsal” da futura rede.
O presidente da audiência, vereador Wagner Ferreira, afirmou que irá encaminhar o registro completo da reunião ao processo judicial como forma de subsidiar o pedido de retomada das obras. Ele também informou que solicitou ao prefeito Álvaro Damião uma reunião com representantes dos movimentos cicloativistas e enviará requerimento de informações sobre pontos técnicos abordados no debate.
Por sugestão do público presente, o vereador também manifestou apoio à proposta de batizar a ciclovia em homenagem ao ciclista Fabrício Almeida, caso haja concordância da família. “Essa é uma ciclovia que simboliza vidas salvas, direitos garantidos e uma cidade mais humana. Esperamos que a Prefeitura se posicione com clareza em favor da continuidade da obra”, concluiu.