Os sete filmes que a seguir, todos no catálogo da Netflix, falam, ora com humor rasgado, ora fundamentado no mais grave rigor histórico, da sempiterna vontade do homem de dominar, de se assenhorear de territórios que nunca poderiam ser seus, literal ou metaforicamente. Passam-se os séculos, mas a sanha da natureza humana por poder é insaciável.
Em 1870, o capitão Jefferson Kyle Kidd, viúvo e ex-combatente de duas guerras, ganha a vida cruzando o Texas a fim de ler para a população despachos sobre o que se passa em outras partes dos Estados Unidos e do planeta, muito menor século e meio atrás — ofício que logo terá de abandonar, uma vez que a imprensa do país se consolida rapidamente. No caminho, Kidd se depara com Johanna, uma órfã de dez anos que perdera a família indígena que a criava num dos conflitos mais recentes e está à própria sorte — e sem saber como se comunicar, já que não fala inglês. A menina, de imediato hostil a qualquer tentativa de aproximação, concorda em seguir com o cavaleiro, que primeiro a entrega a um casal de lavradores, mas acaba por incorporá-la a sua caravana de um homem só. Juntos, os dois enfrentam os mesmos perigos e vivem uma mesma vida, um se valendo do outro para curar sua própria alma.
Explorando outros arcos dramáticos da relação entre Jesse Pinkman, traficante de drogas sintéticas, e o professor de química Walter White, que em busca de qualquer garantia a fim de ter uma velhice menos atribulada, passara a fabricar a melhor metanfetamina da praça — personagens tornados mundialmente famosos com a série “Breaking Bad” —, em “El Camino”, o diretor Vince Gilligan apresenta o coming-of-age, o amadurecimento de Pinkman, visto como um sujeito irresponsável, com todas as emoções muito à flor da pele, sempre disposto a chutar o balde, como sugere o título da obra em tradução livre. Agora sem White para acudi-lo e dividir com ele a história, o criminoso é o personagem central da trama, que a todo momento o desafia a encontrar sozinho uma alternativa para continuar vivo.
Produção original da Netflix dirigida e coescrita por David Michôd, “O Rei” se debruça sobre a vida de Henrique V (1386-1422), soberano da Inglaterra entre 1413 e 1422. Plena de monarcas que abdicariam do trono se pudessem, a dinastia real inglesa impõe a Henrique V assumir os destinos de sua nação, tarefa árdua em se considerando seu temperamento muito mais inclinado ao de mero plebeu que o de um dos homens mais influentes do mundo. No filme, a ascensão de Henrique V ao poder quando da morte do pai, Henrique de Bolingbroke, é esquadrinhada à luz dos sucessivos desentendimentos entre a Inglaterra e a França, que redundaram na Guerra dos Cem Anos (1337-1453).
Responsável por abrir o Festival de Toronto de 2018, “Legítimo Rei” é mais um filme a explorar o intrincado processo de sucessões ao trono no Reino Unido que, não bastasse já ser complexo o suficiente, ainda conta com episódios obscuros, como o que envolve Roberto I (1274-1329), o soberano da Escócia. Robert The Bruce, personagem fulcral na busca do povo escocês por se ver livre da dominação da Inglaterra, luta por seu império, o que lança o país num longo período de instabilidade sociopolítica que se estende no tempo mesmo depois de sua vitória. As desavenças entre escoceses e ingleses voltam a ganhar força com o aparecimento de Mary Stuart (1542-1587), outro membro da realeza escocesa que se levanta contra a Inglaterra, então governada por Elizabeth I (1533-1603), evento retratado em “Duas Rainhas” (2018), dirigido por Josie Rourke. Trezentos depois de Robert The Bruce ter batido o exército de Eduardo II, Jaime VI, descendente do monarca escocês, é coroado também rei da Inglaterra.
A jornada dos Estados Unidos à lua é centrada na figura do astronauta Neil Armstrong (1930-2012), um misantropo que se sente mais à vontade na imensidão silenciosa do espaço, mas, a contragosto, é tomado por celebridade, graças ao feito de ter o sido o primeiro tripulante da missão americana a desembarcar da Apollo 11 e caminhar sobre o terreno arenoso do satélite da Terra na noite de 20 de julho de 1969. Para tanto, Armstrong, Michael Collins (1930-2021) e Buzz Aldrin, 91 anos, os outros ocupantes da nave, tiveram de se submeter a um treinamento rigoroso, que lhes conferiu resistência física e disposição mental a fim de seguir com uma das empreitadas mais complexas da história. Antes deles, em 12 de abril de 1961, o russo Iuri Alieksieiévitch Gagarin (1934-1968) já havia viajado pela Via Láctea sem, no entanto, pousar em nenhum corpo celeste.
Uma viúva solitária e insone decide convidar o vizinho, também viúvo e que igualmente não consegue dormir, para passar a noite em sua casa. A proposta inusitada, que almeja dar aos dois a chance de uma noite de repouso, deixa o professor aposentado atônito a princípio, mas à medida que eles seguem com o plano, esses dois veteranos das dores da alma percebem que começa a florescer uma bela amizade. “Nossas Noites” certamente foi feito sob medida para Robert Redford e Jane Fonda, dois dos maiores expoentes da era de ouro do cinema. Os dois estrelaram dezenas de clássicos, foram premiados com alguns Oscars, contracenaram três vezes e arrebataram público e crítica, trabalhando ora separados, ora juntos, mas sempre apresentando um desempenho admirável.
Albert, um pastor de ovelhas covarde e fanfarrão, já se admitia um perdedor solitário e condenado à execração de todos, mas seu moral dá uma bela guinada no momento em que conhece Anna, uma forasteira misteriosa que ocupa seus pensamentos depois de ele ter sido abandonado pela namorada ao fugir de um duelo. O malandro já estava sentindo que tinha ganhado a parada e poderia, afinal, tomar a prenda para si, mas sua (pouca) coragem se vê alvo de novo teste quando o marido de Anna, foragido da justiça, volta para casa.