Na semana do dia internacional das mulheres, o Balcão News bateu um papo com o renomado cirurgião plástico Dr. Ronan Horta. Formado em 1975 pela Universidade Federal de Minas Gerais, logo foi à Barcelona aprimorar os seus conhecimentos, já que a cidade espanhola é o maior centro de cirurgia plástica do velho continente. “Minha ida para a Europa foi um mergulho intelectual, onde pude trazer uma carga bem diferente de conhecimento. Logo que retornei fui direto para o hospital Mater Dei, recém inaugurado, e fui o primeiro a realizar uma cirurgia por lá, onde estou até hoje”, conta o profissional, que em 1982 montou a primeira equipe da Escola de Cirurgia Plástica, que forma profissionais de altíssimo gabarito nos padrões do hospital.
Em uma sociedade cada vez mais focada na aparência, também influenciada pelo excesso de exposição nas redes sociais, a busca pelo corpo perfeito está sempre em pauta. Dr. Ronan Horta exalta a atuação dos profissionais, mas alerta para o excesso de interferências:
“A cirurgia plástica está sempre em mutação, ela é muito inquieta. Existem determinadas situações que são bem interessantes, quando você tenta melhorar a morfologia do corpo humano dentro do padrão humano, mas é necessário observar que o corpo não pode estar na moda, pois não tem como pendurá-lo e comprar outro, e aí esbarramos em um grave problema”, destaca Horta.
Além da dismorfia corporal, (fobia com a própria forma do corpo, onde a pessoa nunca está satisfeita com sua própria aparência), o problema é agravado com o alto consumo de internet na sociedade. De acordo com o cirurgião, verdades passam a ser criadas na grande rede e vira um grande inimigo dos cirurgiões, “a internet abriu todas as portas do universo. Onde estivermos a internet entra, mas informando exatamente tudo que você quer ver e ouvir. Com isso os grupos se identificam, e ali se trocam informações, e muitas vezes algo que parecia ser absurdo, passa a ser verdade absoluta entre eles, ditando algo a partir daquilo, seja um comportamento ou até mesmo uma morfologia corporal”.
Consumismo do corpo
Muitas pessoas acreditam que alguns procedimentos, por estarem em evidência na mídia ou muito falado na sociedade, podem acarretar em consequências para si próprio. São os casos da Lipo HD, focada em definir contornos musculares na região abdominal, e a aplicação de próteses de silicone com volumes exagerados:
“A técnica Lipo HD é um modelo corporal que não acredito que tenha capacidade de se manter como modelo estético, pela necessidade de se viver para sempre com ele. Hoje existem pessoas que dão cursos, cobrando valores altíssimos, para ensinar a fazer o procedimento. É uma situação embaraçosa para o futuro, pois estão vendendo um produto irreversível e temporal, justamente o contrário do que o ser humano necessita, que é uma situação de bem estar e saúde permanente independente da época. Já a prótese virou no meio social um objeto de desejo. A pessoa compra como se estivesse comprando uma bolsa Louis Vuitton, e não pode ser assim, são coisas bem distintas. A prótese é muito boa para quem perdeu a mama, ou não tem mama, e pretende ter um corpo proporcional com indicações especificas. Mas tem pessoas que consideram o silicone como uma conquista, e passa a ser algo monumental, gigantesco, fora do padrão”, lamenta o cirurgião.
“Tudo que eu faço é com tendência ao normal e equilibrado. O corpo humano é todo matemático. E quando realizamos os procedimentos estamos atrás da proporcionalidade.”