Semana da Arte Moderna
A Semana de Arte Moderna, conhecida também como Semana de 22, aconteceu em São Paulo, no Teatro Municipal, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922.
Vários artistas brasileiros, consagrados pelo modernismo participaram desse movimento cultural que abrangeu a pintura, escultura, poesia, literatura e música, aliados a intelectuais e a elite cafeicultura paulista.
Foram dias épicos de leitura, apresentação de obras de arte e música, desvendando e elucidando a criatividade de poetas, escultores, músicos e literatos que procuravam renovar a linguagem artística e cultural da época, na busca pela liberdade criadora de expressão, rompendo os conceitos do passado e os padrões artísticos vigentes.
A Exposição de Anita Malfatti em dezembro de 1917, foi precurssora da Semana, trazendo inovações expressionistas e cubistas para o Brasil, conhecida como a primeira exposição moderna do Brasil. Ela foi duramente criticada por Monteiro Lobato, causando escandalo e alvo de muitas criticas, mas se estabeleceu como o estopim para as ideias do manifesto.
Na época o movimento não foi muito expressivo, mas depois da morte de Mário de Andrade, em 1945, um dos idealistas da Semana, ela foi inserida na história do Brasil, vindo a ser extremamente reverenciada e difundida. Sendo genuinamente brasileiro, o movimento teve uma vasta recuperação de seu legado, colocando São Paulo como o polo centralizador de todas as mudanças. De caráter revolucionário, a Semana da Arte Moderna exibiu em seus conceitos um universo de pensamentos e criatividade, fundamental para compreensão da arte. Mesmo sendo avaliada sob vários e controvertidos aspectos ela ainda é considerada um momento importante que fortificou o modernismo no Brasil.
A Semana aconteceu no período da República Velha (1889-1930), controlado pelas oligarquias cafeeiras e pela política do café com leite, época do crescimento do capitalismo que consolidava a república e a elite paulista, esta fortemente influenciada pelos padrões estéticos europeus.
“Os primeiros debates começam década de 1910, com a Exposição de Arte Moderna (1917), de Anita Malfatti. Em 1921, intelectuais como Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia manifestam o desejo de tornar a comemoração do Centenário da Independência do Brasil em um manifesto de emancipação artística. Nesse mesmo ano, sob patrocínio do mecenas Paulo Prado, a ideia do festival toma forma inspirado na Semaine de Fêtes de Deauville, na França. O apoio do aclamado romancista Graça Aranha também serviu para legitimar o grupo modernista, que até então era pouco reconhecido”.
O maior objetivo do evento era legitimar e expor o ambiente artístico e cultural da cidade, através da renovação da linguagem, ruptura do passado e a exposição de uma arte moderna e livre, principalmente no campo da literatura e poesia.
Participaram da Semana artistas e intelectuais que mais tarde seriam consagrados no modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Manuel Bandeira, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti, entre tantos outros.
Curiosidades:
O Grupo dos Cinco
O Grupo dos Cinco foi o conjunto de influentes artistas, associados ao modernismo brasileiro que liderou a Semana de Arte Moderna no Brasil formado pelas pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral e pelos escritores Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade.
“Tarsila do Amaral, ícone do modernismo brasileiro, não participou da Semana de Arte Moderna, mas foi seu quadro Abaporu, uma das obras mais valiosas da história da arte brasileira, que se tornou um símbolo do Manifesto Antropofágico, cuja proposta era “devorar” as influências estrangeiras e, a partir disso, renovar a arte brasileira”.
13 de fevereiro
Abertura oficial do evento, foi dedicado à pintura e escultura. Espalhadas pelo saguão do Teatro as obras provocaram reações de espanto e repúdio no público.
O escritor Graça Aranha (1868-1931) abre o espetáculo com a conferência intitulada A Emoção Estética da Arte Moderna.
15 de fevereiro
Guiomar Novaes seria a grande atracão da noite, tocou alguns clássicos consagradas e foi aplaudida pelo público, mas a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética roubou a cena, onde apresentava os novos escritores dos novos tempos e aí surgiram as vaias e barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos…) que se alternavam e se confundiam com os aplausos. Contudo, segundo Haroldo Lívio, o poeta Agenor Fernandes Barbosa foi o único participante aplaudido pelo público no segundo dia do evento.
Na leitura do poema, por Ronald de Carvalho, intitulado Os Sapos de Manuel Bandeira, em que critica o parnasianismo e seus adeptos, o público faz coro atrapalhando a leitura do texto.
17 de fevereiro
Foi o dia mais tranquilo, com apresentações musicais de Heitor Villa-Lobos e vários outros músicos. Um público reduzido se portava melhor até que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um sapato, e outro com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado.
Reflexões:
A liberdade de expressão, a ruptura com o tradicionalismo e a deposição dos temas de influência europeia marcaram a Semana repleta de cultura e arte, ecoando nos tempos modernos, influenciando o tropicalismo e deixando um legado controverso, que no contexto histórico repercute até hoje e é um caminho de reflexão para historiadores e artistas contemporâneos.
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas!
[…]
Manuel Bandeira
O resultado do evento chocou a população mas ao mesmo tempo “balançou”o público mostrando a face de uma arte genuinamente brasileira, sem a intervenção europeia.
Duramente criticada e vaiada por um publico atônito, a Semana despertou nos anos seguintes todo o potencial proposto pelos artistas e hoje se comemora esses dias de uma conotação anárquica com respeito e reconhecimento.
A frase famosa de Mário de Andrade: “Não sabemos definir o que queremos, mas sabemos o que não queremos” mostrava o tom anárquico e provocativo daqueles que se propuseram a mudanças e que não se sucumbiram aos gritos de protesto e vaias em suas apresentações. Muito pelo contrário, essas manifestações do público é que chamaram a atenção para as mudanças propostas.