Alô a todos.
Era 02 de Setembro de 1945. O mundo entrou em catarse com a notícia de que os países aliados, comandados pelos Estados Unidos teriam bombardeado as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki.
Oficiais brasileiros já estavam no avião que os levaria à Itália para os combates corpo a corpo contra os inimigos, quando chega ao Brasil a notícia da rendição do Japão e o consequente fim da Segunda Grande Guerra Mundial. Entre os brasileiros estava o Sr. José Resende Silva, também conhecido como MEU PAI.
Mas hoje, sem o compromisso de uma time-line com os acontecimentos mundiais quero fazer uma reverência àquele que foi o responsável pela minha evolução como ser humano. Aquele “praça” como eram conhecidos os combatentes da guerra era um homem singular. Coberto por um manto inquebrantável de honestidade ele estava longe de ser um conformado. Era o pai da confusão. Aliás, por isso eu faço desse espaço o tema da última coluna desse ano que ainda não acabou (e na minha opinião está longe de acabar).
Meu pai era conhecido como “Zé Roquinho”, não por ser fan de Rock and Roll, que dava seus primeiros ritmos à música mundial. Era porque seu pai, um simples camponês que vivia na inóspita (na época) Vargem Bonita, aos pés da Serra da Canastra era um cidadão conhecido e respeitado na região. Não. Ele não era rico. Era sério. E coloca sério nisso.
Então meu velho herdou não só o nome, mas a seriedade acima da própria existência como meio de vida e comportamento. Meu pai era multifacetado. Foi militar, locutor de rodeio, ativista da direita política do país, aliado a um padre chamado Padre Alberico que lutava com unhas e dentes contra os comunistas. Ali era U.D.N x PSD e se vocês acham que o Brasil está polarizado hoje, precisam conhecer as histórias da política naquela época.
Meu saudoso pai foi comerciante de pedras preciosas, fazendeiro, representante do extinto Funrural, multi-instrumentista de grande talento, capaz de ir da ira extrema ao riso fácil. Machista ao extremo, ficava contrariado da minha mãe além de ser professora, ainda fazia pós- graduação na Faculdade de Ciências e Letras de Passos.
Uma história digna de um livro sem futuro e sem rumo, tal era a multiplicidade da personalidade dele. Ia sempre com um carro novo e do ano para Lagoa da Prata, para namorar minha mãe contrariando imensamente meu avô materno que chegou ao extremo de dizer: “Prefiro comprar uma mortalha para minha filha mais velha do que lhe dar um vestido de noiva.”
Com a crise do pós-guerra agravado por uma revolução estrondosa na política interna brasileira meu pai chegou a ser frentista de posto de gasolina. Nada que o diminuísse no respeito que ele tinha pela comunidade local – nessa época sua família inteira já havia se mudado para a saudosa Piumhi – cidade que o reconhecia como homem íntegro e “nervoso”.
Tão nervoso que em uma ocasião, quando eu tinha 04 (ISSO MESMO QUATRO) anos de idade, por causa de um palavrão que eu disse me deu um murro no nariz que me derrubou de uma mesa de um metro e vinte de altura, e se não fosse a intervenção da minha mãe ele teria continuado a “coça”.
Abatido pelo Alzheimer, que culminou em outras doenças, meu pai se transformou completamente. Foi um período de sofrimento extremo, porque aquele homem que ajudou todas as suas irmãs a se graduarem (ou como dizia-se na época tirarem o diploma) agora agonizava com a dificuldade de movimentos, de marcha, e no final da sua vida até de engolir alimentos.
Pergunta que fica: – Você tem mágoa do seu pai ser tão severo? Resposta que sobrevive: JAMAIS. Ele forjou o homem que sou hoje – para o bem ou não – e me educou, me fez estudar até o limite da minha capacidade e criou uma família da qual me orgulho muito.
Se ele vivesse hoje, seria acusado de maus tratos, mi mi mi , mi, mi, mi. Mas foi um dos maiores homens que já conheci, independente do nosso grau de parentesco.
Se eu tivesse a oportunidade de ter mais cinco segundos com ele, eu diria àqueles olhos incrivelmente azuis: – OBRIGADO PAI.
Feliz 2022 para você que tem a oportunidade de ter seu pai, ou se ele já não está conosco.
Porque homens e mulheres se forjam em uma única palavra: – EDUCAÇÃO!
Até Sexta-Feira que vem.
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