De repente seu filho, aquela criança dócil e carinhosa, começa a bater em você, na mãe, no avô, a chutar o gato, diz te odiar. Não, ela não está possuída ou malcriada. Na verdade, ela está passando por um período onde não tem a maturidade necessária para se expressar, e o tapa ou soco são a forma que elas têm de mostrar este descontentamento ou desconhecimento. É um corpo miúdo, transbordando possibilidades e novas habilidades. Está brincando com um brinquedo, desenhando em um papel, quando não sabem expressar algo ou não compreendem, sentam a porrada ou começam a chorar.
E as expressões faciais, o ranger dos dentes? Nada mais são que uma forma de vazão, de extrapolarem. As possibilidades são infinitas e o tempo e recurso são limitadíssimos. A criança se comunica de formas não convencionais. Uma hora pede, outra hora grita. Uma hora chora, outra hora suplica. Uma hora bate e na outra arranha. Às vezes faz tudo isso em questão de um minuto. O adulto, na sua rigidez social, se vê agredido, violentado e injustiçado. Rotula a criança, chama de caprichosa, agressiva e insuportável. Os dois choram. A treta foi semeada. Mas fique tranquilo, a culpa não é sua. Mas cabe a nós adultos sabermos administrar essa situação e guia-los nesse aprendizado. As crianças com comportamento da raiva, por exemplo, não têm noção do que estão sentindo, e precisam de nossa ajuda. Dê recursos a elas para extravasarem a raiva, como deixar bater em travesseiros ou almofadas por exemplo. Outra forma legal é pegar a mão e passar no rosto, mostrando que mão deve fazer carinho. São formas de traze-las de volta ao autocontrole.
Como bem diz a educadora Elisama Santos, uma especialista da disciplina positiva: “ninguém ensina alguém que está se afogando a nadar. Primeiro você salva a pessoa e só depois, quando a crise passou, é que ela vai aprender.” Primeiro você se acalma, acalme seu filho, para depois mostrar-lhe o caminho. Muitas vezes dar a ela um espaço, um tempo sozinha, para se acalmar e respirar, também é uma baita ferramenta. Para terminar precisamos ter uma coisa bem clara, a criança não bate, não morde e nem xinga pensando no dano que provoca. O cérebro da criança simplesmente não é capaz de tamanha elaboração. Para magoar alguém com intenção, com maldade, precisamos primeiro entender bem onde machuca, nos colocarmos na pele do outro para provocar esse efeito. A criança não é capaz disso ainda. E da mesma forma repentina que surge, ela vai embora. Então tenha paciência com seu filho, seja carinhoso, seja o exemplo. Tudo que fizer nesse período ficará marcado na vida deles.