Nos 190 anos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a atual legislatura se destaca pelo maior número de deputadas já eleitas: 15 mulheres.
Minas Gerais ocupa a segunda posição no ranking nacional de estados com maior representatividade feminina nas Assembleias Legislativas, segundo o TSE Mulheres.
Avanços e Desafios
Apesar do crescimento, a paridade entre homens e mulheres na política ainda está distante. O voto feminino só foi permitido em 1932, e as primeiras deputadas estaduais mineiras, Maria Pena e Marta Nair Monteiro, foram eleitas apenas em 1963. Desde então, apenas 47 mulheres ocuparam cadeiras na ALMG, e cinco chegaram à Mesa Diretora.
Desde 2014, o número de deputadas triplicou, subindo de 5 para 15, o que representa 19% das cadeiras. Esse índice supera a média nacional de 17% nas Assembleias Estaduais, mas ainda é baixo frente à representatividade da população feminina.
Representatividade Feminina
A deputada Leninha (PT) é um exemplo de avanço. Primeira mulher negra a ocupar a Vice-Presidência da ALMG, Leninha tem uma trajetória marcada pela defesa dos direitos das mulheres, das populações periféricas e da comunidade LGBTQIA+.
“Eu vim de baixo, sem dinheiro, sem trajetória familiar na política. Muitas mulheres lutaram para que eu estivesse aqui, e agora eu quero garantir que outras possam ocupar esse espaço também”, afirmou Leninha.
Já a deputada Delegada Sheila (PL), em sua segunda legislatura, atua em defesa dos direitos das mulheres, crianças e adolescentes. Ela destaca que a bancada feminina da Assembleia, mesmo com espectros políticos distintos, se une para fortalecer a luta contra a violência de gênero.
Barreiras à Participação Feminina
Embora o número de mulheres eleitas tenha crescido, desafios estruturais ainda dificultam o avanço da participação feminina na política.
Segundo a pesquisadora Diana de Azeredo, os principais fatores que contribuem para a baixa presença feminina são:
✔ Divisão sexual do trabalho – Mulheres ainda são sobrecarregadas com responsabilidades domésticas, limitando sua atuação na esfera pública.
✔ Sistema de votação em lista aberta – Exige campanhas eleitorais individuais e com alto investimento financeiro, desvantagem para candidatas que historicamente têm menos recursos.
✔ Falta de apoio partidário – Mulheres muitas vezes são preteridas na distribuição de recursos de campanha.
✔ Menor visibilidade na mídia – Candidatas femininas recebem menos cobertura e espaço nos meios de comunicação.
✔ Violência política de gênero – Deputadas enfrentam ataques pessoais e tentativas de silenciamento, o que desencoraja novas candidaturas.
Violência Política Contra Mulheres
A presença feminina no parlamento ainda incomoda setores conservadores. Muitas deputadas enfrentam ameaças e agressões verbais. Para combater essa realidade, a ALMG aprovou a Lei 24.466/2023, que estabelece políticas de enfrentamento à violência política de gênero.
“A nossa presença incomoda aqueles que acham que não temos capacidade. Há uma cultura machista, e os homens precisam ser educados a nos respeitar”, afirma Leninha.
Mulheres Negras na Política
A sub-representação das mulheres negras é ainda mais grave. Apesar de sua histórica participação nos movimentos sociais e na luta por direitos, apenas 7% das deputadas estaduais eleitas no Brasil em 2022 são negras. Na ALMG, das 15 deputadas, apenas quatro se autodeclaram negras.
Para Diana de Azeredo, essa desigualdade tem raízes na estrutura social brasileira, marcada pelo racismo e pelas dificuldades de ascensão para mulheres negras na política. “Elas sempre estiveram na linha de frente das lutas sociais, mas são sistematicamente excluídas dos espaços de poder”, pontua a pesquisadora.
O Caminho Para a Igualdade
Apesar dos desafios, a maior presença feminina na ALMG demonstra avanços importantes. A criação da Bancada Feminina e da Procuradoria da Mulher fortalece o protagonismo das deputadas e abre caminho para novas gerações.
“A política ainda é um ambiente hostil para as mulheres, mas a nossa luta está mudando esse cenário. Precisamos garantir que mais mulheres, especialmente negras e periféricas, tenham acesso ao poder”, conclui Leninha.
A luta pela equidade de gênero na política segue, e cada avanço representa um passo em direção a uma democracia mais diversa e representativa.
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