Quando o chute da atleticana Marcella, aos 52 minutos da etapa final, desviou na zagueira cruzeirense e morreu no fundo das redes do Mineirão, empatando o superclássico estadual, um coração em especial bateu mais forte.
Sentado no banco de reservas do Alvinegro, um integrante da comissão técnica comemorou que a chance de mais um caneco na carreira ainda estava viva, mesmo quando tudo parecia ter chegado ao fim. Ubiratan Miranda é o preparador físico do Galo Feminino e, com o sucesso das atletas na decisão por pênaltis, conquistou pela terceira vez consecutiva o título do Campeonato Mineiro.
Carinhosamente chamado de “Rei de Minas”, ao lado do treinador Hoffmann Túlio, com quem trabalhou nestas conquistas, as medalhas no peito carregam curiosidades interessantes.
A dupla venceu justamente nos três maiores times do Estado: América em 2018, Cruzeiro no ano passado e agora no Atlético. Derrotas? Incrivelmente eles não sabem o que é isso quando o assunto são os Estaduais das últimas três temporadas.
Ubiratan chegou ao futebol feminino há dois anos, justamente na temporada em que ergueu seu primeiro troféu pelo Coelho. Acompanhando Hoffmann no Alviverde e também na Raposa, a parceria foi interrompida no início deste ano, quando apenas o treinador trocou de lado – no início de 2020 Hoffmann deixou o Cruzeiro e foi para o Atlético.
“Naquele momento, houve uma breve sondagem para acompanhá-lo, mas o clube acabou acertando com outro profissional, que deixou o clube em setembro. Foi então que a Nina (coordenadora do Atlético) me fez o convite. Aceitei e iniciei o trabalho imediatamente”, conta o preparador apaixonado pelo esporte.
Seu primeiro desafio com o Galo foi em âmbito nacional. O clube ainda disputava a Série A2 do Brasileirão, torneio que foi vice-campeão com o Cruzeiro em 2019, mas não conquistou o sonhado acesso com o alvinegro. “Infelizmente, não conseguimos subir, pois pegamos um grupo difícil, apesar do bom desempenho contra os concorrentes diretos da chave: o Botafogo e Real Brasília (que foram promovidos ao final do torneio). Nos dois confrontos somamos quatro pontos. Pensando em 2021, nosso grande desafio será manter o time forte, buscar o acesso para a Série A1 do Brasileiro, e, claro, o bicampeonato estadual”, acrescenta.
O DESAFIO NO FUTEBOL FEMININO
Ubiratan tem 41 anos e é formado em Educação Física com especialização em treinamento esportivo pela UFMG. Durante sua carreira esportiva, teve passagens pelo futebol masculino nas categorias de base de vários clubes mineiros e também no vôlei. Com o crescimento do futebol feminino, ele destaca a importância de sua atuação com as atletas para o alto rendimento nos clubes: “o futebol feminino ainda está em desenvolvimento. Mesmo já sendo profissionais, temos jogadoras que não tiveram categoria de base, o que é praxe no masculino. Me preocupo muito em desenvolver certas capacidades físicas nelas, já que muitas não tiveram essa chance de treinar desde cedo. Algumas vêm direto do Futsal e nunca tiveram contato com o gramado ou com um nível competitivo profissional. A base muscular e treinamento de força são fundamentais para suportarem a carga de trabalho, sequência e a alta intensidade nos treinos e jogos”, frisa Ubiratan, que recebeu elogios da coordenada do Galo Feminino, Nina de Abreu:
“O feminino é uma categoria muito específica do futebol. Cada vez mais pelo mundo todo, exceto no Brasil, vemos a preparação física como um pilar de sustentação fundamental para o desenvolvimento de grandes equipes. São exigidos muitos estudos e é pura ciência. A chegada do Ubiratan mudou o patamar das atletas do Galo, e isto visivelmente alavancou o nosso rendimento. Quando anunciamos a contratação para as nossas atletas, foi comemorado como um golaço das Vingadoras. Brinco que foi uma assistência do técnico Hoffmann e um gol meu”, comemora a coordenadora.
E o título de sábado (19) veio justamente com a necessidade de muita força, persistência e garra. O Galo sofreu a virada e perdia até o último lance, quando empatou e triunfou nos pênaltis. Para Ubiratan, entre as três conquistas, essa foi a mais marcante.
“Os três títulos foram muito importantes. Mas pela dificuldade do que imaginávamos, pelo Cruzeiro estar na Primeira Divisão, com um elenco muito forte, o qual conheço muito bem, e também pela história do jogo, essa final será inesquecível com um gostinho especial”, destaca o preparador físico.
A sua importância, não só no jogo do ultimo sábado (19), mas em todo o desenrolar da temporada, é destaque para a Nina, que o define como o melhor do país: “Esse título está diretamente ligado a ele, que também foi vencedor com os nossos rivais. Não fazia sentido buscar preparadores físicos fora de Minas se o melhor do Brasil está aqui e agora veste preto e branco”, finaliza a “chefe”.
O segredo para ser o “Rei de Minas” não existe, mas tem importantes considerações em sua caminhada. Rindo e ainda comemorando a terceira conquista estadual, Ubiratan tentou explicar a receita do sucesso: “Brinco que nesse caso o raio caiu três vezes no mesmo lugar né!? Mas nada vem de graça. Foi na base de muito suor, dedicação e profissionalismo. Prova disso é ter atuado nos três grandes de Minas, que são rivais, e conseguido ter desempenhando um excelente trabalho e conquistado a confiança e respeito de todas as diretorias. Deixei uma marca positiva onde passei e isso é muito importante”, finaliza o “papa-títulos”.