Pouco antes da pandemia, estive na Suécia, país onde moram minha filha, meu genro e meus netos. Viajar pela Europa pode parecer, para alguns, algo fascinante pelas belas paisagens, museus e lindas cidades. Mas, para mim ela sempre representou resiliência, resistência e reconstrução.
Europa é um continente que sempre sofreu os horrores da guerra desde antes das invasões romanas, dos mouros e até mesmo entre povos de países e reinos do próprio continente. As grandes guerras mundiais no século passado, deixaram cicatrizes dolorosas e, ainda que me entusiasme com as belezas, busco sempre os detalhes de cada sutura dessas cicatrizes. Em cada cidade que passo, busco uma referência, um marco, um detalhe, que possa representar a verdadeira história européia cunhada pelas guerras.
Eu e minha esposa caminhávamos sob o frio do início de dezembro na cidade de Malmö, quando ouvimos uma sirene cujo som era difícil de determinar de onde vinha. Parecia que vinha do céu. Imediatamente, minha espinha gelou ainda mais que o próprio frio e me reportei aos tristes momentos da Segunda Grande Guerra. Chamei minha filha ao telefone assustado com o que aquilo poderia significar, apesar de constatar o semblante das pessoas nas ruas que pareciam tranqüilas e acostumadas com aquele som que durou alguns minutos. Minha filha me tranqüilizou dizendo que era um exercício mensal de alarme de invasão aérea ao território sueco. E que ali mesmo em seu bairro, existiam dezenas de abrigos com provisões para que os moradores possam se refugiar de um ataque, até mesmo nuclear. Mais uma ferida que continua gritando nos céus dos países europeus.
Hoje vemos, mais uma vez, a Europa ameaçada por uma disputa de testosteronas descontroladas. Como brasileiro, não vivi os horrores das guerras. Mas, algo sempre me fascinou ao ponto de, se existe alguma possibilidade de haver reencarnação, certamente vivi e morri no palco de guerra europeu nos anos 1940. Incrível acreditar que chegamos a um ponto de desenvolvimento humano onde ainda se impõem os poderes pela supremacia militar. Difícil entender que a ameaça do uso da força militar é que garante a paz.
Hoje estamos assistindo ao desequilíbrio. Ainda que por aqui nos informemos apenas com as narrativas do ocidente, difícil crer que não exista uma saída diplomática para os problemas entre as nações. Tenho medo de que as sirenes, que agora soam de verdade sobre a Ucrânia, voltem a soar por toda a Europa.
Até a próxima!
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