Familiares de vítimas da ditadura vão ter direito a novas certidões de óbitos com causa real das mortes

CNJ manda emitir certidao de obitos ditadura Balcao News Rafa Neddermeyer 11 12 24 CNJ manda emitir certidao de obitos ditadura Balcao News Rafa Neddermeyer 11 12 24
Os familiares das 434 pessoas reconhecidas como mortas ou desaparecidas no relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) têm direito a solicitar a nova certidão de óbito. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Br.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma medida histórica que permitirá aos familiares de vítimas da ditadura militar brasileira (1964-1985) solicitar uma atualização das certidões de óbito para reconhecer a verdadeira causa da morte.

A nova redação afirmará: “morte não natural, violenta, causada pelo Estado a desaparecido no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política no regime ditatorial instaurado em 1964.”

A medida, aprovada no dia 10 de dezembro — data marcante pelos 76 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos —, foi considerada um passo importante na reparação moral das vítimas e de seus familiares.

Segundo o presidente do CNJ e do STF, ministro Luís Roberto Barroso, trata-se de “um acerto de contas legítimo com o passado”, reconhecendo o golpe de 1964 e suas consequências nefastas, como mortes, torturas e desaparecimentos forçados. A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, destacou que essa decisão simboliza a “retomada da dignidade daqueles que tiveram seus direitos aviltados e negados.”, durante a ditadura militar

Os familiares das 434 pessoas reconhecidas como mortas ou desaparecidas no relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) têm direito a solicitar a nova certidão de óbito. Segundo a Agência Brasil, a CNV, instituída no governo Dilma Rousseff, investigou violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 e concluiu seus trabalhos em 2014.

Apesar do avanço, a CNV não conseguiu aprofundar as investigações sobre os assassinatos de indígenas durante a ditadura, um tema ainda pendente. Estimativas de entidades de direitos humanos apontam para mais de 8 mil mortes de indígenas, um genocídio que permanece sem reconhecimento ou responsabilização.

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Embora a decisão do CNJ seja um importante marco para a memória e a verdade, tanto o ministro Barroso quanto a ministra Macaé Evaristo reconhecem que ela não substitui a ausência de um pedido formal de desculpas pelo Estado brasileiro. No entanto, representa uma tentativa de reparação simbólica, reafirmando o compromisso das instituições democráticas com a verdade e os direitos humanos.

Essa medida reforça o papel do Brasil em enfrentar seu passado autoritário, mas também evidencia a necessidade de maior atenção a outros grupos marginalizados, como os povos indígenas, que continuam buscando justiça por violações sofridas durante a ditadura.

Além disso, o ato reafirma a importância de preservar a memória histórica para evitar retrocessos democráticos.

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