Não precisa ser muito íntimo do Gabriel Severo para saber seu time. As cores, escudos e frases estampadas na sua pele através de tatuagens já confirmam que ele vive o Cruzeiro. Com seus 24 anos de dedicação e amor ao clube, o torcedor encontrou nos mantos celestes uma maneira de guardar um pouco da história centenária da Raposa.
Em seus cabides os uniformes que fizeram história são colecionados com muito carinho e zelo por Severo, que já soma mais de 400 peças. Entre os modelos azuis e brancos, se misturam também camisas comemorativas, que chamam atenção pela design diferente do tradicional. Mas quem tem um local de destaque em seu armário são as coloridas do seu principal ídolo estrelado, o goleiro Fábio. Jogador com maior número de jogos pelo clube, 917 até então, o arqueiro é o atleta que Severo mais tem apreço.
O COLECIONISMO HERDADO DO PAI
A mania de colecionar nada mais é que uma paixão que vem de berço. Seguindo o canto que a torcida ecoa no Mineirão lotado, Severo dá continuidade a caminhada iniciada pelo pai, Luiz Rios, que divide com ele esse hobby:
“Nos anos 60 e 70 meu pai acompanhou de perto a primeira aparição do Cruzeiro nacionalmente, e com isso criou gosto pelo colecionismo. Juntava peças históricas referentes as grandes vitorias da época, inclusive o triunfo sobre o Santos de Pelé. Logo após veio uma década difícil, mas com camisas muito representativas, de patrocínios marcantes como o da Coca-Cola vermelho, da fornecedora Adidas, e então chegaram os anos de glórias na década de 90, com os títulos internacionais. Isso tudo motivou e desencadeou o desejo de tê-las dentro no armário. E bastou meu nascimento para eu viver essa paixão e herdar dele esse gosto”, comemora o torcedor.
Seu quarto é quase um museu, repleto de lembranças das páginas heroicas e imortais estreladas. Entre as faixas, agasalhos, ingressos e moedas comemorativas, os principais itens de sua coleção são apresentados em nomes e números. Camisas utilizadas por Ronaldo Fenômeno, adquirida de uma ex-professora do craque, a lendária 10 de Alex na conquista da tríplice coroa (incluindo uma com etiqueta da época), o raríssimo uniforme da despedida do argentino Sorín, são exemplares únicos que valorizam seu acervo. Sua busca por relíquias é feita na internet e com alguns alvos específicos, “todo colecionador valoriza muito as camisas mais antigas, que são mais difíceis de achar, mas procuro também as camisas de jogos, utilizadas por jogadores, que tenham patches (selos comemorativos) de competições diferentes ou que tenham algum detalhe exclusivo de uma partida especifica”, complementou.
Em meio a centena de camisas, ele confidenciou ao Balcão News qual é a sua preferida: “Difícil escolher uma só, mas a camisa do Romero, utilizada na partida final contra o Flamengo na Copa do Brasil de 2017, tem uma grande representatividade para mim. Foi o primeiro campeonato que fui a todos os jogos da campanha vitoriosa, fosse no Mineirão ou fora de Minas. Quando fomos campeões levantei a taça junto com os jogadores, como se eu fizesse parte da conquista por ter acreditado desde o início”, exaltou o colecionador que foi enfático ao escolher a mais bonita entre elas: “a toda lisa da década de 80.
O RETORNO DA ADIDAS
No ano passado o Cruzeiro apresentou uma gigante marca estrangeira para assinar a coleção da temporada e consequentemente os uniformes do centenário em 2021. A alemã Adidas foi anunciada e movimentou o mercado celeste. Com a parceria oficializada, Severo é sem dúvida um dos poucos, ou único, torcedor com tamanha quantidade de peças da empresa:
“São 80 camisas só da Adidas! Nós torcedores esperávamos que essa parceria viesse no centenário, mas em um momento melhor dentro de campo. A relação com as três listras vem da década de 80 e sua chegada resgata um pouco da nossa história também. Eu, particularmente, achei os modelos apresentados muito bonitos, agradou demais aos torcedores e bateu recordes de vendas. Acho que a Adidas teve um papel fundamental nisto”, destacou o cruzeirense que também explicou o motivo de ter tantas camisas de uma única temporada:
“A Adidas apresentou uma variação de camisas muito bem trabalhada em conjunto com o marketing do clube. Praticamente todos os jogos temos novidades na camisa, pequenos detalhes, o que é um prato cheio para nós colecionadores. Tivemos ações pontuais nas campanhas de prevenção ao câncer de mama (número rosa), no combate ao racismo (frases racistas para serem extintas do cotidiano), no jogo pré-centenário do clube (hashtag do twitter valorizando a data), nos 300 anos de Minas Gerais (selo comemorativo). São pequenos detalhes, mas que valorizam a peça por não serem comercializadas”. Claro que Severo tem todas essas pecas em seu acervo. (clique aqui e veja)
O PÉSSIMO MOMENTO NÃO INTERROMPE A COLEÇÃO
Com remotas chances de retornar à elite do Brasileirão e vivendo de perto a pior crise institucional do clube em seus 100 anos de fundação, Gabriel culpa a diretoria passada pelo pesadelo em que se encontra o cruzeirense, mas garante que nem isso é capaz de desanimá-lo em aumentar sua coleção:
“O Cruzeiro sofreu um assalto na gestão passada. Foi muito mais fora de campo do que dentro. Erros de quatro, cinco anos não serão recuperados em 15 meses, e muito menos com a pandemia que assola o mundo, reduzindo a nossa arrecadação. Compreendemos os erros atuais da diretoria, que são consequências dos que vieram antes, mas acredito que estamos no caminho correto, de organizar a casa e voltar. Muita gente me questiona sobre manter a coleção na situação atual do clube, mas quem é colecionador sabe que as novidades não param e vão muito além dos resultados. Isso aqui é só um pouco do que sinto e do que vivo o Cruzeiro”, respondeu.