Atraso na conclusão de obras de recuperação é alvo de críticas da comunidade de Piedade do Paraopeba.
Em reunião da Comissão de Assuntos e Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta terça-feira (18/7/23), eles criticaram a falta de transparência do processo de restauração, conduzido pela prefeitura.
As obras de restauro tiveram início em 2018. Mas a população reclama que não tem acesso a informações sobre ações já realizadas, previsão de conclusão das obras e recursos necessários para finalização dos trabalhos.
Os moradores de Piedade do Paraopeba criticaram a Câmara Municipal por não ter realizado uma audiência pública para prestar esses esclarecimentos à população. O prefeito Avimar de Melo Barcelos também foi criticado pela falta de transparência sobre o processo de reforma da igreja.
Em um vídeo divulgado na última sexta-feira (14), Avimar de Melo anuncia a liberação de R$ 2 milhões para a retomada das obras. Mas esse anúncio oficial foi alvo de muitas críticas. “Como ele chegou a esse valor? Será que esses R$ 2 milhões são suficientes?”, questionou o vereador Daniel Hilário.
Representante da prefeitura diz que obras foram discutidas com a população
O presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, Webert Fernandes de Sousa, que falou em nome da prefeitura, rebateu as críticas e argumentou que todas as obras de restauração foram discutidas com uma comissão com representantes da comunidade de Piedade do Paraopeba e da Mitra Arquidiocesana, proprietária da igreja.
Ele esclareceu que o projeto foi dividido em três etapas. A primeira fase, que compreendeu o reforço estrutural da igreja, foi financiada com recursos do Fundo Municipal do Patrimônio Cultural.
A segunda etapa, de restauração arquitetônica, contou com R$ 2,4 milhões captados das mineradoras Vale e Vallourec, por meio da Lei Rouanet. Porém, segundo Webert Fernandes, a extinção do Ministério da Cultura no governo Bolsonaro levou à paralisação do projeto.
Paralelamente a isso, foram gastos R$ 365 mil em recursos municipais na restauração das imagens sacras do templo religioso. Agora, para finalizar as obras, a prefeitura também pretende aportar recursos próprios.
Questionado pelos deputados João Vítor Xavier (Cidadania) e Leleco Pimentel (PT), Webert Fernandes não soube responder de onde viria esse dinheiro, uma vez que a ação não está prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) municipal. Ele tampouco soube informar uma previsão para o término dos trabalhos de restauro.
Os dois parlamentares criticaram a falta de respostas precisas e o anúncio feito pelo prefeito de Brumadinho. “Parece mais uma peça de publicidade do que uma resposta efetiva da prefeitura”, lamentou o deputado João Vítor Xavier.
O deputado Leleco Pimentel disse que vai cobrar essas informações da prefeitura e vai solicitar que o Ministério Público fiscalize a utilização de recursos públicos na reforma da Matriz de Nossa Senhora da Piedade. Esses requerimentos serão votados na próxima reunião da comissão.
Os dois deputados ainda apresentaram projeto que reconhece a relevância da igreja como patrimônio histórico e cultural do Estado. Eles acreditam que a aprovação de uma lei vai facilitar a preservação do templo religioso.
Igreja passou por diversas intervenções ao longo de sua história
A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade teve a construção iniciada em 1713. Segundo o professor da Escola de Arquitetura da UFMG Flávio Carsalade, que elaborou o projeto básico de restauro, trata-se de um marco da ocupação bandeirante da região.
O problema é que a igreja sofreu diversas intervenções ao longo de sua existência, o que dificulta os trabalhos de restauração. “Não há como voltar ao que nunca foi nem a uma suposta feição original que a edificação nunca possuiu”, explicou.
De acordo com o professor, intervenções realizadas nas décadas de 1960, 1970 e 1980 descaracterizaram a construção original. Muitos elementos artísticos teriam sido inclusive vendidos para colecionadores.
O projeto de restauro prevê a recuperação dos atributos ligados à expressão barroca e a correção de proporções e do equilíbrio cromático da construção, além do reforço estrutural da edificação. Também estão previstas a substituição do coro, a troca do piso e a recuperação do forro da nave da igreja.
Adriano Luis Furini de Souza, da A3, empresa responsável pela restauração, garantiu que todas as decisões acerca das intervenções realizadas foram tomadas com a anuência dos moradores de Piedade do Paraopeba.
O engenheiro Roger Motta Campelo, responsável pelas obras de recuperação da estrutura de sustentação do templo religioso, alertou que é preciso executar ações de manutenção preventiva, de modo a evitar novos danos no futuro. “Não adianta fazer essa obra e esquecer do principal, que é a manutenção da estrutura da igreja”, afirmou.