Poucas cidades têm o privilégio de ter vilarejos tão acolhedores quanto o Serro. Passear por aqui é entender melhor a história da ocupação dos sertões de Minas Gerais, que começou ainda no século XVIII com a descoberta de jazidas de ouro e lavras de diamante. As paisagens da região, marcadas pela exuberância da Serra do Espinhaço, se misturam com a graça da arquitetura colonial, estampada em casas e monumentos públicos.
Milho Verde – Bela, simples e acolhedora
A Capela de Nossa Senhora do Rosário, construída em madeira e barro, está ali desde o século XIX, com sua fachada em forma de hexágono e sua torre central. Presume-se que o belo templo foi erguido pelos negros livres e também pelos ainda escravizados. Era o pequeno recanto de orações daqueles que encontraram as primeiras pedras de diamante na região.
O lugar nasceu como Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres de Milho Verde do Serro Frio. O nome explica-se pela santa padroeira da região e “Serro Frio” deve-se ao fato de o arraial àquela época pertencer a Santo Antônio do Bom Retiro do Serro Frio – hoje, simplesmente Serro.
Mas o que ficou do nome, Milho Verde, é a parte mais controversa e, claro, a mais curiosa. Existem duas versões principais. A primeira diz que os bandeirantes, ao chegarem, pararam em uma casa humilde da região e a única comida que havia para ser oferecida era, exatamente, milho verde. Outra lenda conta que um português fundou o povoado em 1711. E seu nome seria Rodrigues Milho Verde.
Em fins do século XIX, o vilarejo chegou a ser praticamente abandonado e seu povoamento voltou a se intensificar só na década de 1980, quando pessoas em busca de tranquilidade começaram a chegar ao local. São na casa delas que hoje se podem ouvir muitas outras lendas da região, regadas a café e ao inconfundível queijo do Serro.
A natureza acolhedora do povo dessa região é um dos seus principais atrativos. As paisagens ao redor completam o charme. A Cachoeira do Moinho é uma das mais bonitas da região e deve seu nome a dois moinhos próximos que eram usados para transformar milho em fubá. A conformação das pedras faz com que a água caia em etapas e chegue ao poço devagar.
Mais distante está a Cachoeira do Lajeado. A trilha leva a uma queda d’água que desliza sobre pedras de cor escura, formando uma linda piscina de tonalidade marrom. Por ser rasa, é apropriada para crianças.
Capivari – Turismo de vilarejo no teto do Sertão
Capivari – Cachoeira do Tempo Perdido – Crédito Rodrigo Azevedo
Chamado “turismo de vilarejo”, iniciativa que permite aos viajantes se hospedarem na casa dos moradores, é o que possibilita a visita ao povoado de Capivari. Com cerca de 200 habitantes, vivem da agricultura e também, do turismo. Uma joia da Estrada Real — devidamente protegida pela Capela de São Sebastião, erguida em meados do século XVIII, no alto de uma colina na entrada da vila.
As prosas são sempre cheias de fantasia e natureza, dois elementos que andam lado a lado em Capivari. É ali que está o Pico do Itambé: com 2.002 metros, um dos pontos mais altos da Serra do Espinhaço, é conhecido como “o teto do sertão”. Sua conservação foi um dos principais argumentos para a criação do Parque Estadual do Pico do Itambé, em janeiro de 1998. Quem se dispõe a ir até o topo encontra cursos d’água, cachoeiras e uma grande riqueza vegetal, que formam belíssimas paisagens.
Mas o atrativo mais procurado pelos visitantes é a exuberante Cachoeira do Tempo Perdido, uma das únicas quedas do estado em que é possível caminhar “por trás” das águas. Essa característica se deve ao formato da pedra, afastada alguns metros do paredão. Outro ponto singular é o chão de areia fina, que dá um aspecto de “praia” ao local. O poço, de tonalidade marrom, confere ainda mais beleza a esse ambiente tão particular.
São Gonçalo do Rio das Pedras – Harmonia entre patrimônio histórico e natureza
A linda São Gonçalo do Rio das Pedras, que fica a menos de 10 quilômetros de Milho Verde, exige do visitante, em primeiro lugar, instantes de profunda contemplação. Não há quem ande por suas ruas de pedra sem admirar os contornos rústicos e sempre cativantes das construções locais — erguidas a 1.150 metros de altitude. São heranças do século XVIII e nasceram da incessante busca por metais preciosos.
Muito próximo ao centro do vilarejo, surge um paredão rochoso de 85 metros de onde a água não para de cair, desenhando uma imponente cachoeira. Dois moinhos de pau-a-pique, que servem à produção de fubá, completam a paisagem da Cachoeira do Comércio. O local, em meio ao casario de São Gonçalo do Rio das Pedras, é o exemplo da convivência harmônica entre homem e natureza que reina ali.
Outras cachoeiras merecem a visita. É o caso da Grota Seca, com mais de 30 quedas que formam poços de diferentes tamanhos, perfeitos para deliciosos mergulhos. E, claro, como todo vilarejo mineiro que se preze, por ali também a história se confunde com as lendas e merece ser conhecida.
Conta-se que a Igreja Matriz de São Gonçalo foi construída sobre a pedra em que um grupo de crianças encontrou uma imagem desse santo. À época, o distrito ainda não possuía um templo cristão, o que fez com que alguns moradores levassem a imagem em romaria para o distrito vizinho de Milho Verde. Mas a imagem reaparecia misteriosamente no mesmo local onde foi achada.
Os moradores então decidiram erguer a igreja ali. Sua arquitetura apresenta um grande portão central e duas torres laterais, além de uma bela pintura do santo que lhe dá o nome no teto da capela-mor. Seu estilo transita entre o barroco e o rococó.
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