O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou hoje (18/09), a elevação da taxa básica de juros da economia, a Selic, para 10,75% ao ano.
Esta decisão marca o primeiro aumento desde agosto de 2020 e reflete um cenário econômico desafiador, caracterizado pela alta da inflação, pressões no mercado de trabalho e incertezas relacionadas à economia global e local.
Contexto econômico: o que motivou o aumento da Selic?
A decisão do Copom foi tomada por unanimidade, sinalizando que os membros do comitê estão alinhados quanto à necessidade de apertar a política monetária para controlar a inflação e manter a estabilidade econômica. Essa alta de 0,25 ponto percentual já era amplamente esperada pelo mercado financeiro, que vinha acompanhando de perto os indicadores econômicos e as perspectivas para o futuro.
Entre os principais fatores que levaram ao aumento da Selic, destacam-se:
- Alta do dólar: A recente valorização da moeda americana aumentou o custo das importações e, consequentemente, elevou os preços de produtos e insumos no mercado interno.
- Inflação: As expectativas de inflação para os próximos meses têm se mostrado desfavoráveis, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulando uma alta significativa nos últimos 12 meses.
- Pressões no mercado de trabalho: A taxa de desemprego vem caindo gradualmente, o que, embora positivo, gera pressões inflacionárias à medida que os salários tendem a subir.
- Hiato do produto positivo: A economia brasileira está operando perto da sua capacidade total, o que significa que qualquer aumento na demanda pode pressionar ainda mais os preços.
Histórico da Selic: uma análise dos últimos anos
A última vez que o Copom aumentou a Selic foi em agosto de 2022, quando a taxa passou de 13,25% para 13,75% ao ano. Após esse período, o comitê iniciou um ciclo de cortes, com seis reduções consecutivas de 0,5 ponto percentual e uma de 0,25 ponto, até chegar aos atuais 10,75%. Nas reuniões realizadas entre junho e julho de 2023, o Copom optou por manter a taxa em 10,5% ao ano, em uma tentativa de observar os impactos das medidas anteriores antes de tomar novas decisões.
O contexto atual, porém, exige uma postura mais rigorosa do Banco Central, que, diante das pressões inflacionárias e do aumento do risco fiscal, decidiu retomar o ciclo de elevação dos juros.
Perspectivas para o futuro da política monetária
Em seu comunicado oficial, o Copom destacou que o ciclo de alta dos juros poderá continuar, mas evitou dar detalhes sobre a intensidade e a duração desse processo. Segundo o comitê, a continuidade do ajuste será guiada pela evolução dos indicadores econômicos, especialmente aqueles relacionados à inflação e à atividade econômica.
“O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, informou o Copom em sua nota.
Essa postura cautelosa reflete a complexidade do atual cenário econômico, no qual a política monetária precisa equilibrar o combate à inflação com a necessidade de estimular o crescimento econômico.
O papel da Selic no controle da inflação
A taxa Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação no Brasil. Ela influencia diretamente o custo do crédito, tanto para consumidores quanto para empresas, e impacta as expectativas de mercado em relação ao comportamento futuro dos preços.
Quando o Banco Central eleva a Selic, ele busca conter a demanda agregada ao encarecer o crédito, desestimulando o consumo e os investimentos. Esse movimento tende a reduzir a pressão sobre os preços, ajudando a controlar a inflação. Por outro lado, um aumento nos juros também pode ter efeitos colaterais negativos, como o enfraquecimento do crescimento econômico, já que empresas e consumidores enfrentam maiores dificuldades para financiar suas atividades.
Inflação em alta: desafios e perspectivas
No Brasil, a inflação é medida principalmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que abrange uma cesta de bens e serviços consumidos pelas famílias. Em agosto, o IPCA registrou uma variação negativa de 0,02%, impulsionada pela queda nos preços da energia elétrica. No entanto, essa deflação pontual não reflete uma melhora estrutural nos preços, uma vez que outros fatores, como o aumento das tarifas de energia e os impactos da seca prolongada, já estão pressionando a inflação para cima.
A expectativa do mercado financeiro, medida pelo boletim Focus, é de que a inflação oficial feche o ano de 2024 em 4,35%, um valor próximo do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Essa meta, definida em 3% com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, impõe ao Banco Central o desafio de manter a inflação dentro do intervalo permitido, especialmente em um cenário de pressões externas, como a alta do dólar, e internas, como a seca prolongada que afeta a produção de alimentos.
O próximo Relatório de Inflação do Banco Central será divulgado em setembro e trará uma atualização das projeções para o comportamento dos preços nos próximos meses. O documento é aguardado com grande expectativa pelo mercado, que busca entender melhor os planos da autoridade monetária para lidar com os desafios inflacionários.
Consequências da alta da Selic para o crédito e o crescimento econômico
Uma das consequências imediatas do aumento da taxa Selic é o encarecimento do crédito no mercado. Juros mais altos tornam os empréstimos mais caros, tanto para pessoas físicas quanto para empresas, o que pode desestimular o consumo e os investimentos. Esse efeito é particularmente relevante em uma economia como a brasileira, onde o crédito desempenha um papel importante na sustentação da demanda interna.
Por outro lado, a elevação da Selic também tem como objetivo conter o excesso de demanda que pressiona os preços, contribuindo para o controle da inflação. Esse é um equilíbrio delicado que o Banco Central precisa buscar: ao aumentar os juros, ele reduz a pressão inflacionária, mas, ao mesmo tempo, pode desacelerar o crescimento econômico.
Impactos no crescimento do PIB
No último Relatório de Inflação, o Banco Central revisou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2024, aumentando a expectativa de expansão da economia para 2,3%. Esse número pode, no entanto, ser revisado para baixo, dependendo da evolução dos indicadores econômicos nos próximos meses.
Já o mercado financeiro está mais otimista. De acordo com a última edição do boletim Focus, os analistas projetam um crescimento de 2,96% do PIB em 2024. Essa diferença nas projeções reflete a incerteza que ainda paira sobre a economia brasileira, que enfrenta desafios tanto no cenário interno quanto externo.
Expectativas para os próximos meses: o que esperar do Copom?
O futuro da política monetária no Brasil dependerá, em grande parte, da evolução dos indicadores econômicos. A inflação continuará sendo o principal foco do Banco Central, que precisa garantir que os preços fiquem dentro da meta estabelecida pelo CMN. Para isso, novas elevações da taxa Selic não estão descartadas, especialmente se as expectativas de inflação para 2024 e 2025 continuarem subindo.
O comunicado do Copom indicou que o Banco Central está atento aos componentes mais sensíveis da inflação, como os preços dos alimentos e da energia, que têm sido diretamente impactados por fatores externos, como a seca e a valorização do dólar. Além disso, o mercado de trabalho, com sua recuperação gradual, pode gerar pressões adicionais sobre os preços, o que reforça a necessidade de uma postura vigilante por parte da autoridade monetária.
Horizonte ampliado: projeções de longo prazo
O Banco Central trabalha com um conceito chamado “horizonte ampliado”, que considera o comportamento da inflação em um período de até 18 meses. Isso significa que a autoridade monetária não toma decisões apenas com base nos indicadores atuais, mas também projeta o comportamento futuro dos preços.
De acordo com as estimativas do Copom, o IPCA deve encerrar 2024 em 4,3%, 2025 em 3,7% e 2026 em 3,5%. Essas projeções indicam que o Banco Central espera uma desaceleração gradual da inflação nos próximos anos, à medida que a política monetária restritiva produz seus efeitos e a economia global se estabiliza.
O desafio de manter o equilíbrio econômico
O aumento da taxa Selic para 10,75% ao ano reflete a complexidade do atual cenário econômico brasileiro. O Banco Central precisa equilibrar o combate à inflação com a necessidade de estimular o crescimento econômico, em um contexto de incertezas globais e pressões internas.
Embora o aumento dos juros seja uma ferramenta eficaz para conter a inflação, ele também impõe desafios ao crescimento do PIB e ao mercado de crédito.
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