Bolsa Família reduz mortes de beneficiários com transtornos mentais

Estudo revela queda na mortalidade desse grupo vulnerável.
Programa Bolsa Familia Balcao News Programa Bolsa Familia Balcao News
A melhoria da renda familiar por meio do Bolsa Família promove o incremento na alimentação, bem como o cuidado com a própria saúde. Foto: Lyon Santos/MDS.

Uma pesquisa realizada pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, demonstrou que o Programa Bolsa Família tem um impacto significativo na redução da mortalidade de beneficiários diagnosticados com transtornos mentais. De acordo com o estudo, o programa de transferência de renda reduziu a mortalidade geral em 7% e a mortalidade por causas naturais em 11% dentro desse grupo.

Os resultados reforçam a relação direta entre o aumento da renda e a melhoria das condições de vida, principalmente para pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Além de contribuir para a alimentação e o acesso à saúde, o Bolsa Família também exige que seus beneficiários sigam condicionalidades, como o acompanhamento médico regular, o que pode ser determinante para a prevenção de mortes evitáveis.

Impacto positivo em pacientes psiquiátricos

O estudo analisou aproximadamente 70 mil pessoas que ingressaram no Bolsa Família após terem sido hospitalizadas ao menos uma vez por transtornos psiquiátricos. A pesquisa considerou homens e mulheres com idades entre 10 e mais de 100 anos, acompanhados entre 2008 e 2015.

A doutora em Saúde Coletiva Camila Bonfim, que liderou o estudo, explica que o grupo analisado se encontra em uma situação de vulnerabilidade acentuada, tanto pela condição de saúde mental quanto pela falta de recursos financeiros.

“As pessoas com transtornos mentais enfrentam um risco maior de adoecimento e morte precoce. Esse risco é agravado pela pobreza, que limita o acesso à alimentação adequada e aos cuidados médicos necessários. Nosso estudo buscou confirmar que a melhoria na condição financeira está diretamente ligada a uma menor taxa de mortalidade”, afirma Camila.

Para avaliar esse impacto, os pesquisadores focaram em pacientes que passaram a receber o Bolsa Família após uma internação psiquiátrica. Os resultados confirmaram que a inserção no programa prolongou a sobrevida dessas pessoas, evidenciando o impacto positivo da política pública.

O impacto do Bolsa Familia Balcao News 2
Estudo da Fiocruz Bahia acompanhou homens e mulheres, entre 10 e pouco mais de 100 anos, no período de 2008 e 2015.

Renda maior melhora saúde e alimentação

A pesquisa sugere que a melhoria da renda familiar promovida pelo Bolsa Família impacta diretamente na saúde dos beneficiários, reduzindo a mortalidade por doenças preveníveis. Isso ocorre porque o programa exige que os beneficiários realizem acompanhamentos médicos periódicos em unidades da Atenção Primária à Saúde.

Esse acompanhamento permite a identificação precoce de doenças, aumentando a adesão a tratamentos e reduzindo as chances de óbito por condições como:

  • Doenças cardiovasculares
  • Cânceres tratáveis
  • Doenças respiratórias crônicas
  • Complicações metabólicas, como diabetes

Além disso, o aumento da renda familiar contribui para a melhoria da alimentação, garantindo maior acesso a nutrientes essenciais para a saúde física e mental. O impacto positivo do Bolsa Família se torna ainda mais evidente quando comparado ao histórico de exclusão social e econômica vivido por muitos beneficiários.

Usuários de álcool e drogas são maioria nos casos de internação

A pesquisa também analisou as principais razões que levaram esses pacientes a serem hospitalizados. Quase 40% das internações estavam relacionadas ao uso abusivo de substâncias, como álcool e outras drogas.

Outros motivos frequentes de internação foram:

  • Psicoses e esquizofrenia
  • Episódios depressivos graves
  • Transtornos de ansiedade severos

Essas condições estão associadas a uma redução da expectativa de vida. De acordo com estudos médicos, pessoas com transtornos mentais graves vivem, em média, entre 50 e 70 anos, significativamente menos do que indivíduos sem essas condições.

Isso ocorre porque muitos desses pacientes não conseguem cuidar da própria saúde de maneira adequada, seja por falta de autonomia, dificuldades financeiras ou até mesmo pelo preconceito que enfrentam no sistema de saúde.

Além disso, o impacto da pobreza e da exclusão social agrava o quadro, uma vez que limita o acesso a tratamentos médicos, alimentação saudável e condições dignas de moradia.

Mulheres e jovens se beneficiam ainda mais

A análise também revelou que o impacto do Bolsa Família foi ainda mais expressivo em mulheres e jovens.

  • Entre as mulheres, a redução da mortalidade geral foi de 25%, enquanto a mortalidade por causas naturais caiu 27%.
  • Entre jovens de 10 a 24 anos, a queda na mortalidade geral foi de 21%, e a mortalidade por causas naturais foi 44% menor.

Esse efeito pode estar relacionado ao fato de que muitas mulheres beneficiadas pelo Bolsa Família são chefes de família e utilizam o recurso para melhorar as condições de vida de seus filhos e dependentes. Além disso, o suporte financeiro pode ajudá-las a escapar de situações de violência doméstica, já que a dependência econômica é um fator que dificulta a saída dessas relações abusivas.

No caso dos jovens, a redução da mortalidade pode estar associada ao fato de que o Bolsa Família exige a permanência escolar, garantindo que crianças e adolescentes tenham acesso a uma rede de proteção social dentro das escolas.

As instituições de ensino oferecem suporte psicológico, campanhas de conscientização e um ambiente mais seguro para os alunos, o que pode contribuir para prevenir problemas de saúde mental e reduzir os riscos de morte prematura.

Bolsa Família fortalece políticas públicas de saúde

Os dados revelados pelo estudo reforçam o papel crucial do Bolsa Família como uma ferramenta não apenas de combate à fome e à pobreza, mas também de promoção da saúde pública.

Ao garantir acesso a uma renda mínima, o programa contribui para que milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade melhorem sua qualidade de vida, reduzindo desigualdades sociais e prevenindo mortes evitáveis.

Os resultados também indicam a importância da continuidade e ampliação de políticas públicas voltadas para a população mais pobre, assegurando que o impacto positivo na saúde e na longevidade dos beneficiários seja mantido e ampliado nos próximos anos.

A retomada do Bolsa Família em 2023, com novos adicionais para crianças e adolescentes, pode potencializar ainda mais os efeitos positivos observados na pesquisa, garantindo que mais famílias tenham acesso a alimentação adequada, cuidados médicos e melhores condições de vida.

LEIA MAIS:

Portal e-Cidadania do Senado bateu recorde de participação popular em 2024

Mantenha-se atualizado com as notícias mais importantes

Ao pressionar o botão Inscrever-se, você confirma que leu e concorda com nossos Termos de Uso e as nossas Políticas de Privacidade