Volta Belchior
Sonhei forte que eu tinha (ou que existia) um bar que se chamava
arriscar tudo de novo com paixão bar e botequim.
O nome pareceu-me um desabafo, um desacato, mas era uma homenagem.
Cerveja gelada, tira gosto, o papo da rapaziada, (é demais!),
ainda por cima sabendo que lá fora havia galos noites e quintais.
Sem contar vitória muito cedo, não, de todos os bares,
esse certamente seria o melhor!
A começar com a placa bem grande na frente,
com aquela frase do Belchior.
Eu, minha normalista linda, que ainda sou bem moço, e ainda sou estudante, achei tudo um colosso!
Lá dentro – obrigatório ficar entre o sonho e o som, porque não? – que Alucinação,
deve ter muito mais que só voz e violão.
E quando estiver na hora do almoço, imaginem, no centro da sala, diante da mesa,
no fundo do prato, poderão servir, sei lá, comida e (o contrário) de tristeza.
Ideal pra quem estiver mais angustiado que um goleiro na hora do gol ou pra quem
não sente e não vê ou sei lá, pra qualquer rapaz latino americano.
Seja como for, não quero lhe falar meu grande amor, das coisas que aprendi nos
discos, eu quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja.
Impossível não desejar, também , um gole de cerveja, no seu cooooopo (desculpem, não resisti)
no seu colo e nesse bar, suavizando, quem sabe, esse olhar lacrimoso
que hoje eu trago e tenho principalmente na expectativa de que quando você me amar,
eu possa pedir me abrace e me beije – bem devagar. Meu bem, meu bem, que outros cantores chamam baby.
Se o meu delírio é a experiência com coisas reais, não preciso que me digam de que lado nasce o sol,
nem que horas abre o bar,
porque bate lá meu coração.
Até porque, dentro do carro sob o trevo a cem por hora, eu volto de Copacabana essa semana (o mar sou eu!)
Depois de tomar um conhaque, às cinco, vou beijar a menina e levar a saudade, na camisa toda suja de baton.
Porém, se você vier me perguntar por onde andei, dizendo que não sente e não vê eu te direi que me lembro muito bem, do dia que cheguei, e te mostrarei os pés cansados e feridos de andar légua tirana, e na calçada, no chão, o meu cachorro Ligeiro ao lado de Populus, Populus, Populus meu cão.
Vou ver as pessoas que são boas e que merecem estar nesse bar um preto, um pobre, um estudante uma mulher sozinha, pessoas cinzas normais, garotas dentro da noite, e os humilhados do parque, com os seus jornais, além dos dois policiais e a turma do outro bairro, todos eles enfim.
E apesar de ser perversa a juventude do meu coração, aqui o sol (não) é tão bonito pra quem vem.
Sei que assim falando pensas que esse desespero é moda
e então, desesperadamente, enquanto o carro passa, deixando as paralelas dos pneus na água das ruas,
eu grito em português:
ora, direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso, e talvez por causa disso, eu vos direi no entanto,
tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, mas enquanto nesse ano eu não morro penso ser isto o fim do termo saudade, de alguém sozinho a cismar!
Já que foi por medo de avião que eu segurei pela 1a. Vez a sua mão, exatamente por isso presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte, e mesmo sem saber onde cada um guarda mais o seu segredo, vou viver as coisas que são boas, pois agora, agora eu quero tudo, tudo outra vez!
Viver é melhor que sonhar, mas sonhar um sonho louco como esse foi muito bom! Volta Belchior!
J.Café