O Zoológico de Belo Horizonte está em festa. A família de micos-leões-pretos – espécie brasileira criticamente ameaçada de extinção -, ganhou quatro novos integrantes. Em 29 de agosto deste ano nasceram mais dois filhotes desta espécie, que é o símbolo da Mata Atlântica. Após um período de cuidados e observação dos recém-nascidos, a família de micos, que agora conta com seis membros – em fevereiro de 2021 já haviam nascidos duas fêmeas – já está pronta para receber os visitantes.
O casal de micos – pais das duas duplas de filhotes – foi formado apenas em 2020. Ambos os adultos vieram da mesma instituição, a Fundação Parque Zoológico de São Paulo, por meio do Plano de Ação Nacional para Conservação dos Mamíferos da Mata Atlântica. Porém, eles chegaram ao Zoo de BH em momentos distintos: a fêmea, que chegou em 2016, teve outros parceiros, mas não reproduziu. Já o macho chegou em 2020. Agora a família tem dois adultos (um macho e uma fêmea), dois filhotes fêmeas e dois filhotes ainda de sexo desconhecido.
Valéria Pereira, chefe da seção de mamíferos do Zoo de BH, explica que a formação do casal, mesmo com pouco tempo de convívio, e o sucesso da reprodução são bastante favorecidos quando existem condições ideais: cuidados técnicos adequados, boa infraestrutura de recintos e equipe qualificada e experiente para o manejo geral da espécie.
Durante os primeiros dias de vida, os técnicos do Zoo adaptam a rotina de cuidados para promover o mínimo de contato possível, reduzindo possíveis perturbações à família e situações de estresse aos animais, que estão dedicados a cuidar da cria. Os quatro filhotes de mico-leão-preto nascidos no Zoo de BH devem permanecer no mesmo recinto dos pais por muito tempo, independentemente do sexo.
A permanência desses animais no mesmo local ao longo dos anos também estabelece uma hierarquia, impedindo que cruzamentos consanguíneos aconteçam, uma vez que os pais são os dominantes do grupo. Somente em caso de o pai ou a mãe morrerem é que a hierarquia se desestabiliza, demandando o manejo dos demais para formação de novos grupos, com indivíduos de sangue diferente.
Por isso, durante as visitas é necessário manter o silêncio ao redor dos recintos (especialmente desta jovem família de primatas), não tentar chamar atenção dos animais, não deixar resíduos de alimentação caírem dentro dos recintos nem tentar alimentar os animais e zelar pela tranquilidade do espaço para o bem-estar de todas as espécies.
Sobre o mico-leão-preto
O mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) é uma das espécies de primatas mais raras e ameaçadas do mundo. Ocorrendo apenas no oeste do estado de São Paulo (nos remanescentes de Mata Atlântica), o animal já foi considerado extinto da natureza por muitos anos e, ainda hoje, sua situação é grave por ser criticamente ameaçado de extinção: aparece na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção, na categoria “Em perigo”.
Estima-se uma redução populacional de 50%, ou mais, nas próximas três gerações (2019-2040), devido à contínua perda de habitat (estabelecimento de novas propriedades rurais, agropecuária, queimadas, desmatamento, etc.) e com potencial para perdas relevantes devido a eventos inesperados, como surtos de febre amarela que causam mortalidade significativa nas populações de mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia).
É um animal onívoro, com dieta composta por frutos, exsudatos vegetais (líquidos que formam as resinas, gomas), néctar, flores e pequenos animais (anfíbios, répteis, aves, mamíferos, insetos, entre outros). Tem hábitos diurnos (muito ativo durante o dia) e é territorialista: cada grupo demarca um território (área de vida) que pode variar de 40 a 400 hectares de floresta, dependendo do tamanho da população. Vive em grupos familiares de 2 a 8 indivíduos, composto por uma fêmea dominante, um a dois machos reprodutivos e os filhotes e juvenis do casal, que permanecem no grupo até atingirem a maturidade sexual (por volta de 1 ano e meio de vida) e se dispersarem para a formação de seus próprios grupos familiares.
Reproduz, geralmente, uma vez ao ano, com gestação de quatro meses..
Assim como outras espécies de primatas, o mico-leão-preto é um aliado da saúde humana, pois faz o papel de “sentinela” no ciclo da febre amarela: ao ser infectado, alerta para o aparecimento da doença na região, permitindo estabelecer políticas públicas e medidas sanitárias preventivas. Além disso, é um bom dispersor de semente, auxiliando na manutenção das florestas das áreas onde vive.