Os desafios do transplante de córnea na pandemia

Dr. Leonardo Gontijo – Queda de cerca de 20% no número de transplantes de órgãos, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), sendo o transplante de córnea o mais afetado.
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Hospital dos Olhos

A pandemia do novo coronavírus trouxe dificuldades diretas e indiretas em diferentes áreas da medicina. Como esperado, agravou uma realidade já bastante complexa, que são as doações e cirurgias de transplante de órgãos.

Houve uma queda de cerca de 20% no número de transplantes de órgãos, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), sendo o transplante de córnea o mais afetado. Só em Minas Gerais, dados do MG Transplantes apontam que no primeiro semestre de 2019 foram registrados 647 procedimentos, enquanto que no mesmo período do ano passado foram efetuados apenas 350.

O transplante de córnea é o tipo de transplante mais realizado no mundo. Primeiro, por ser um tecido avascular, consequentemente, dispensa a compatibilidade sanguínea, e segundo, por poder doar em até 12 horas após a morte (post mortem), ao contrário dos demais órgãos, como fígado, coração, rins e pulmões. Por isso que a disponibilidade de córnea é bem maior que de outros tipos de órgãos.

Infelizmente, em função da pandemia, as atividades das equipes de captação post mortem ficaram suspensas por mais de um ano, sob ordem da secretaria de saúde. Tivemos um período muito longo com doações apenas de pacientes em morte encefálica, que representam menos de 5% das doações totais. Consequentemente, a fila de espera por córnea em Minas Gerais, que costumava ser de aproximadamente 1 ano, agora chega a quase 3 anos. Uma triste realidade para aqueles que necessitam de reabilitação visual.

A fila de pacientes aguardando o tecido é única e regional. Um paciente inscrito em uma determinada região aguarda uma doação feita naquela mesma região, independentemente se é inscrito pelo SUS ou pelo serviço particular. Além disso, algumas regiões contam com auxílio da iniciativa privada na captação de órgãos, o que colabora com o andamento da fila naquela região. Logo, a fila de espera em diferentes regiões do país é variável, enquanto em uma pode levar dias, em outra pode levar meses ou anos.

Essa interrupção de um serviço que é essencial sufocou a fila de espera em diversas regiões do país, e essa imprevisibilidade gera ansiedade, angústia e até depressão nos pacientes. Dependendo do seu quadro clínico, como é o caso de doenças degenerativas, a demora pelo transplante afetará o resultado cirúrgico. 

Já em outras regiões, que contam com o apoio da iniciativa privada, como ocorre no Ceará, o retorno foi mais rápido. Por lá a fila está zerada: em torno de 5 dias após sua inscrição, o paciente é informado de que há uma córnea disponível, uma vantagem tão grande em relação a outros estados, que nos obriga a levar pacientes daqui para serem operados por lá, a fim de acelerar a reabilitação tão desejada.

E quem precisa do transplante de córnea? A técnica é indicada para doenças que geram opacidade, cicatrizes ou inchaço dessa estrutura, como a distrofia de Fuchs, ceratopatia bolhosa, cicatrizes causadas por traumas ou ainda quando a córnea é irregular, quando é inviável a correção com lentes de contato e óculos, como em alguns quadros de ceratocone. 

Os riscos do procedimento e a expectativa de melhora da visão vão depender de alguns fatores como: tipo de transplante realizado – se será tradicional ou lamelar (de camadas) – e da situação do olho do paciente. Por isso, é importante frisar que é uma cirurgia individualizada.

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