As lentes de contato surgiram oficialmente há mais de 130 anos e desde então vêm se modernizando, devido ao avanço em pesquisas e no emprego de tecnologias, tudo isso para proporcionar aos pacientes conforto e qualidade da visão. Ainda que a indústria traga constantes melhorias e novos modelos para correção da visão ou como uma alternativa funcional e estética, os cuidados com o manuseio das lentes não podem ser ignorados.
O principal deles é referente ao prazo de descarte, que não costuma ser considerado pelos usuários, em parte por desconhecerem a importância dessa medida, e porque após seu vencimento as lentes de contato continuam gerando boa visão. Entretanto, depois de vencidas as lentes ficam repletas de depósitos de proteínas que impedem a passagem do oxigênio.
Esse comportamento de risco pode gerar consequências de proporções variadas, entre elas, causar vascularização da córnea, resposta alérgica atípica, pequenas lesões seguidas de infecções, e até mesmo gerar um desgaste precoce, levando à necessidade de um transplante de córnea no futuro.
Outro erro bastante comum é dormir com as lentes de contato. A córnea é uma estrutura avascular, ou seja, sem vasos sanguíneos, por essa razão é o oxigênio do ambiente que penetra nela. Ao dormir, a pálpebra passa a ser mais uma barreira de oxigenação, além das próprias lentes. Como resultado, o paciente terá um ressecamento ocular, poderá sentir ardor e sensação de areia nos olhos ao longo do dia, sensibilidade aumentada à luz, ou ainda sofrer complicações mais severas.
A higienização inadequada das lentes é mais uma armadilha para a saúde ocular. O recurso óptico deve ser mantido durante algumas horas em uma solução multiuso, própria para a desinfecção. Jamais utilize soluções de qualidade inferior, que possam provocar um quadro alérgico, e sobretudo água corrente ou soro fisiológico, o que agravam a população de bactérias nas lentes. É bom ressaltar que as mãos devem ser higienizadas antes de qualquer manuseio, seja para guardá-las, trocá-las (sugiro ferver o estojinho sempre que houver substituição das lentes) ou colocá-las.
Um descuido que aparenta ser inofensivo, trocar as lentes de olhos pode ocasionar uma visão embaçada ou dor de cabeça, então tenha atenção e use um estojo identificado para usá-las sempre no mesmo lado (olho direito e esquerdo).
Por último, e igualmente importante como os cuidados compartilhados acima, os pacientes devem ser sempre acompanhados de um especialista em córnea. No surgimento de uma complicação, procure seu oftalmologista imediatamente, ou vá a um serviço de urgência, e leve as lentes, pois no caso de uma infecção é possível coletar o material diretamente no produto para identificar o tipo de bactéria que acometeu os olhos.
(Dr. Leonardo Coelho Gontijo, oftalmologista do Instituto de Olhos Minas Gerais, especialista em córnea, catarata e cirurgia refrativa)