Da vida mêsm, só’si leva “O Toró”!..

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Da vida mêsm, só'si leva “O Toró”!.. Fotos: Tiago Boson.

O tempo não passa…! Ele se dilui e se torna abstração. Ao assistir o espetáculo interpretado pela Trupe de Teatro e Pesquisa – “O Toró, de Shakespeare” –, o espectador será como o ar que os personagens respiram em cena, integrando de corpo e alma no processo mais sublime gerado pela Arte em movimento.

Levando em consideração e fidelidade o texto e a linha narrativa da peça A Tempestade, escrita por William Shakespeare (1564-1616), este espetáculo vai mais além ao incorporar não somente uma linguagem simples e contundente mas – e o que agrada muito aos ouvidos sensíveis! – deveras melodiosa.

Como alquimia realizada com perfeição no cadinho ao equilibrar as substâncias, ricas em sua qualidade e teor, o trabalho aqui apresentado revela a todo momento a magistral competência em cena dos atores, a presença física e energética evocada de cada personagem em ação e a sonoridade envolvente – manifesta de modo diegético através da sonoplastia realizada ao vivo, fazendo uso de apetrechos e instrumentos musicais.

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A instrumentalidade utilizada no espetáculo.

O trabalho vocal também merece destaque: O espectador na platéia poderia fechar os olhos, somente, e reclinar na poltrona do teatro… ouvindo. Apenas ouvindo com imenso deleite cada linha articulada pelas vozes dos atores e atrizes; o sorriso desenhado nos lábios somente se desfazendo quando a risada se desprende da alma em um impulso irrefreável!

Não porque a comédia aconteça a todo momento ou seja demasiado engraçada. É o mérito da dramaturgia: absolutamente agradável na técnica e composição das emoções compartilhadas com o público.

Cada expressão ganha um fraseado e entonação que varia de acordo com a intenção, acertando no ritmo e não caindo na armadilha dos exageros. Os personagens são caracterizados com um tom realmente único – o que torna cada integrante da Trupe insubstituível, seja pela maneira de se comportar em cena ou pela aura de carisma manifesta em ação!

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Os atores contracenando com o apoio sonoro do restante da Trupe.

Outra percepção notável é o aspecto dramatúrgico, a intensidade e a forma utilizada na alternância de cada ato, medidas pela régua da harmonia: O espetáculo é realmente tão divertido quanto interessante – os destinos de todos importam! Possui o peso e o contrapeso necessários para que a filosofia superior inerente em cada expressão não se perca no caminho – orientando a uma perspectiva de pensamento e sentimento elevados. É vigoroso e sólido em sua proposta, claro e objetivo em sua intenção.

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Alexandre Toledo como “Próspero”.

Ó “Uh’ Toró”, sô (!!)

Como relata o diretor da peça, professor Yuri Simon, sobre a decisão em utilizar a fonética e o linguajar do povo mineiro, especificamente ao modo sertanejo (do interior) – a priori considerado até simplório, mas que, como ele observa também: até mesmo o mineiro urbano flerta e utiliza deste jeito carregado de pronunciar as palavras –, tudo começou devido à comemoração dos 30 anos de existência da Trupe, onde fora decidido trabalhar alguma das peças de Shakespeare:

“Então acabou ficando entre ‘Sonho de Uma Noite de Verão’ e ‘A Tempestade’. E como já tinha muitas montagens de Sonho de uma Noite de Verão, a gente acabou decidindo montar A Tempestade numa versão ‘amineirada’. E aí, na mesa de bar mesmo, as pessoas já perguntaram (falaram assim) ‘Não, mas A Tempestade – do Shakespeare?’, tal (né?) ‘Como é que a gente vai fazer?’ (não sei o quê). ‘Ah, pra mim vai ser O Toró!’.

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Yuri Simon, o diretor de ‘O Toró’.

“Aí o pessoal já começou a rir na mesa…! (…) Então dali já pegou a verve do que já seria ‘O Toró’.”

Yuri, ainda acrescenta: “Pegamos umas cinco (seis) traduções dA Tempestade (do português) que eram herméticas – eram fechadas! –; e o pior: (né!) as traduções de uma pra outra (elas) tinham diferenças conceituais muito grandes em termos da tradução mesmo – da interpretação que foi dada para as construções idiomáticas (mesmo), as metáforas que apareciam durante a estória…”

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A resolução do problema, segundo ele, foi ir à fonte primária – o texto em inglês, atualizado!

“E em cima disso a gente foi (é…) construíndo o texto em ‘mineirês’ – não passando pelo ‘português’ – passando diretamente pelo que significaria numa expressão idiomática mineira.”

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A Trupe de Teatro e Pesquisa reunida sobre o palco do FELUMA.

Não por acaso, evocando o próprio espírito de Shakespeare por intermédio do personagem Bassânio ao fazer a crucial escolha frente aos baús:

“… Tua simplicidade me comove mais do que a eloquência.” (vide O Mercador de Veneza.)

A peça “O Toró, de Shakespeare” é outro destaque da 49º Campanha do Teatro e da Dança, e será apresentada no teatro FELUMA de 12 a 22 de janeiro.

Para mais informações e aquisição de ingressos:

https://www.vaaoteatromg.com.br/detalhe-peca/belo-horizonte/o-toro-de-shakespeare //

https://www.instagram.com/trupe_de_teatro/ //

https://www.instagram.com/ciadafarsa/

Tiago Boson

Multi-instrumentista autodidata, compositor, professor de música, pintor, ilustrador, escritor/poeta (não publicado).

E-mail: [email protected]

Instagram: @tiagoboson

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